tag:blogger.com,1999:blog-11635718658618750392024-02-22T13:49:05.500-03:00Peixe GrandeJessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-1163571865861875039.post-12030926310654269402009-12-28T00:35:00.004-03:002009-12-28T03:04:12.107-03:00Nascimento<div><br /><br /><div><br /><br /><br /><div>Bom, como todo princípio, eu preciso dizer que nasci. Ah, mas não foi aquela coisa de sincronia: bisturi, bebê, choro, costura. Não, não.<br /><br />Meu nascimento foi algo para lembrar.</div><div><br /><div style="text-align: right;"><em style="font-family: georgia; font-weight: bold;">Conta minha mãe, que uma mulher trazia pela mão uma menina loirinha. Ela mostrava para a menina, a minha mãe.<br />A menina corria para longe, sorria, mas não se aproximava...</em><br /></div><br />Era dia 3, a cidade tinha luzes em todos os lugares. Não digo luzes em plantas verdes, porque, naquele fim de mundo, não havia plantas verdes: só galhos retorcidos e folhas marrom-acizentada. Cantigas natalinas iam ecoando de casa em casa e assim sendo, era noite do dia 3 e minha mãe começou a sentir dores.<br /><br />Eu era uma menina qualquer e gostava do anonimato. Tinha um vestido azul e duas amigas. Não sei bem porque, e para isso eu realmente não sei nem o que dizer, mas sempre que me lembro delas, lembro de um círculo no chão e de estarmos sentadas juntas dentro dele.<br /></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5420126590941571922" style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 320px; height: 212px; text-align: center;" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkGHJuxS0UIjo7Z_ph8oyBSJrobxrl4hfYZe_j14XLohkipoAq1FvQyOB6cSIErQ6l_gBO-0J0HvskhVYWt28e_UOUWg656MP0HRIwazHcKEBq0dtaq72ka3V1m-8X55NA0jrh5A3qGXnO/s320/nascimento.JPG" border="0" /><br />O fato é que, ao que me parece ou ao que me deixo lembrar, naquele dia alguém me avisou que eu precisaria sair do círculo. Claro, eu não quis. Bati o pé de sapato branco naquela coisa fofa que me parecia nuvem.<br /><br />Não me deram ouvidos. Não pude voltar para as minhas amigas.<br /><br />No dia seguinte, uma sensação diferente foi chegando. Eu era pequena e via o mundo todo por um buraco pequeno. E o meu mundo estava encolhido dentro de um aquário de vidro fosco.<br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5420126583025071282" style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 320px; height: 212px; text-align: center;" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiviKdJrtzc_V4ucZ0sSKgyi-gFOWX2wM6DSuexuaW6iylhO8knIFwPGJRQNXaXSvYi4kkcdc8LDfGJFJNb5eAnq3rQTnPvTPUguVRMSrvu1DbxuaTIJ788yPs4ofYld6Ow1aShQLuSrLCl/s320/%C3%BAtero.JPG" border="0" /><br />Era anos 80. A música era uma coisa tremendamente desesperadora e lá fora, com voz de taquara, alguém cantava “ Vamos fugir desse lugar, Baby”.<br /><br />Uma mulher gritava, um homem cantava, alguém comentava que era tão complicado viver nesse ambiente e não poder ajudar. “tadinha, duvido que consiga ter essa menina”<br /><br />Eu começava a descobrir que meus dedos eram pequenos, que eu não tinha cabelos nem laço e que sentia muita falta das amigas do círculo. Resolvi, não nasceria. E, impetuosa, resolvi ficar.<br /><br />Dia 5 chegou. Dia de Santa Bárbara. Resolvi que fincaria a barraca naquele terreno e não sairia.<br /><br />Espiei, é fato. E nisso ouvi alguém gritar “Coroou! Coroou!”.<br />Mas eu não ia. Eu não queria ir.<br /><br />O caso é que comecei a sentir pena de minha mãe. Eu bem que poderia sair um pouco, dar-lhe uma boa explicação e depois tentar uma autorização com duas vias, carimbada, de volta para a casa... Não tive tempo de entregar o passo. Como um trovão algo me agarrou pela cabeça. Fui puxada na marra, para aprender a deixar de ser atrevida e nascer de uma vez.<br /><br />Foi muita emoção. Ou susto. O coração, acostumado ao círculo e ao jogo das três Marias não agüentou: Parada cárdio-respiratória, reanimação, médicos balançando a cabeça. Minha mãe que vinha de tão longe e eu que ia para longe dela. Soluçava, soluçava... Nada dava jeito. Deram-me por perdida e me entregaram a enfermeira-bruxa do centro cirúrgico.<br /><br />Ah, essa é a pior parte da história. Contente eu ia, com certa dó da mãe, pegando o túnel de luz com o metrô de Ghost - O outro lado da vida, (daqui a alguns anos alguém terá que explicar o que é que tem a ver a minha ida desse mundo com o metrô de “Ghost – O outro lado da vida), já conseguindo ver a minha parada, quando senti uma dor, uma dor, um DOR!<br /><br />Não pude me conter. Aquela esperta tinha me batido no calcanhar de Aquiles. Precisava revidar!<br />Bradei! E bradei a noite inteira depois disso.<br />Iria de manhã para a minha calmaria, mas, naquela noite, ninguém naquele hospital dormiria...<br /><br />E não dormiram.<br /><br />Nem a mãezinha. E nem os olhos castanhos dela. E nem o braço quentinho dela. Nem o sorriso bonito dela. Nem o leite quente. E nem aquele homem de voz de taquara rachada, que, segundo o que eu soube depois, pulou a janela do hospital para dormir escondido com a mãezinha.<br /><br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5420126098851651266" style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 320px; height: 212px; text-align: center;" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnTYAD01ODB5-xjD-3eNpgrswAoaiJ5Qa7A_IG5JxYpyLxChNst_n0YTs9lrLLI6RPjAmfyy33gETswhkqglFWTwi5td773_apsUchPi158S5XM68XDu4wQDY4D1gFuzFWgQtINn9CbLx4/s320/Big+Fish+nascimento+I.JPG" border="0" /><br /><br /><br /><br />E, é... eu nasci.<br /><br /><br /><br /><span style="font-size:78%;">As Ilustrações são minhas!! :)</span><br /></div></div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0